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terça-feira, 25 de junho de 2019

Michael Meneses - Uma cabeça pensante na cultura do Rock carioca.

Conheci Michael no começo da década de 90 e daquele tempo pra cá sempre vi seu envolvimento com a arte de uma forma muito atuante. 
Seja frequentando shows, produzindo alguns deles, assim, como lançamento de um selo e o apoio pára algumas bandas cariocas, Michael, ou, aquele que muitos conhecem mais pelo apelido de "Parayba", faz parte da memória do Rock carioca, principalmente para aqueles que conhecem o cenário da zona oeste.
Figura divertida e sempre com boas histórias, o arte condenada BATEU UM PAPO com ele para saber um pouco mais de sua história.
Vamos ao papo !

Por Luis Carlos
Fotos: Arquivo/divulgação.

Entrevista ao Blog Arte Condenada – Por Luis Carlos (Carlinhos)
1 – Michael, a impressão que eu sempre tive é que por mais que sua ligação com o Rock seja forte, você sempre buscou valorizar outros tipos de cultura. Estou certo disso?
R: Michael Meneses / Rock Press/ Parayba Records - Sim, graças ao rock cheguei à fotografia, algo que sempre gostei, desde pequeno, mas foi o rock que me deu o click e me fez focar nessa arte. Uma vez fotógrafo, busquei aprimorar outras expressões artísticas, como cinema, literatura, artes plásticas, cênicas... Não me vejo apenas acompanhando rock, tenho que deixar a música trilhar os caminhos artísticos e culturais em minha vida. Acredito que as artes devem ser aliadas umas às outras.
2 – Lembro de você falar de um futuro lançamento de um livro seu falando do Rock da zona oeste. Quando finalmente veremos esse trabalho? Alguma previsão?
R: Por conta de inúmeros fatores, tive que começar e recomeçar esse projeto algumas vezes. A parada principal se deu por conta da compra do meu apê. Mesmo assim, continuei pesquisando, e em breve terei novidades sobre esse livro sobre o rock no subúrbio carioca e outros dois projetos literários que tenho, todos envolvendo, arte, fotografia e música.

Foto por Wallace Gomes.
3 – Você, como colecionador de um vasto material sobre música, o que diria sobre itens do qual considera mais valiosos? Esse resgate de material antigo, parte do teu acervo pessoal, servirá para que você faça futuramente alguma coisa em prol do estilo?
R: Cada disco raro, livro fora de catálogo, ou foto que tenho tem o seu valor, hoje não saberia e nem quero avaliar, pois no final serão apenas números sem sentimentos. Muito desse material é parte da pesquisa para o livro sobre o rock no subúrbio carioca. Porém, outras ideias me surgem em relação às centenas de fitas e CDs demos, fanzines, cartazes de shows que tenho. Já fiz exposições em shows com parte desse material. Às vezes me sinto um herói por preservar esse acervo, por outro lado é chato quando sou cobrado para disponibilizar tudo o que tenho, quero fazer isso, e de tempos em tempo até faço, mas não me sinto na obrigação, quando sei que teve banda que não teve esse mesmo carinho com seu próprio acervo ou com músicos que renegam o passado. Até teve um caso de um músico que me pediu que retirasse do meu Facebook uma foto dele, pois não queria nada dele vinculado a antiga banda onde ele tocava. Seja como for, aos poucos vou disponibilizando esse material.

4 – Como é que começou essa história do apelido “Parayba”?
R: Sou carioca, nascido em Irajá, morei em Madureira, Vicente de Carvalho, bairro da zona norte carioca, também morei em Marechal Hermes e moro em Campo Grande na Zona Oeste do Rio, ou seja, sou carioca do subúrbio até o osso! Porém, carioca nunca foi bom de geografia, para ele o mundo se divide em Rio de Janeiro, São Paulo e Paraíba, só agora novas terras foram descobertas, e estas são chamadas de Minas Gerais Uai!! (risos). Meu verdadeiro contato com a Paraíba tá no fato de ser filho de pai paraibano de João Pessoa com mãe sergipana de Itabaiana, mas o fato é que morei a década de 1980 em Aracaju/SE e com sotaque sergipano, ao voltar a morar no Rio em 1990 ganhei o apelido de Paraíba, seja na cena rock ou fora dela as pessoas me chamavam de Paraíba. Em 2001 comecei as atividades do Selo e como as pessoas diziam “Vou comprar um disco no Paraíba” nomeei meu stand de Selo Cultural Parayba Records e assim começou o selo que tá completando 18 anos de história, e nesse tempo apoiamos o lançamento de discos, filmes, peças de teatro, exposições, shows... Fizemos arte.
5 – Você, como filho de nordestinos, o que acha da cena musical de lá E não digo só de Sergipe onde você morou, mas de toda região.
R:
 A cena rock de Sergipe e muito rica, teve e tem excelentes bandas como Karne Krua, The Baggios, Plástico Lunar, Manicômio, The Renegades Of Punks, Snoozes, Tchandala... entre tantas outras e de diversos estilos de rock, além de fanzines, eventos e ótimas iniciativas. O nordeste todo é assim, em 1990, fui à Recife assistir a Dorsal Atlântica e tinha gente de toda a região. Acho que nós cariocas e sulistas perdemos em não dar uma merecida atenção a cena rock e cultural do nordeste. Vale muito conferir!

No Rock in Rio de 2015.

6 – Vai ter que escolher agora (risos). Itabaiana/SE, Campo Grande/RJ ou Flamengo/RJ?
R: Escolho o Botafogo/RJ, o Vasco/RJ, o Fluminense/RJ, o Palmeiras, o Santos, o Grêmio/RS, o Inter/RS, Atlético/MG sempre perdendo para o Campo Grande A.C. que é o meu time no Rio, para o Itabaiana/SE que é o meu time no Brasil e para o Flamengo que é o meu time no Universo, pois não podemos pensar no Flamengo apenas como um time carioca, e sim como um time do Cosmos.
7 – Você chegou a fazer alguns eventos com teu selo e vem apoiando alguns deles pela cidade. Qual tua opinião sobre o papel que o selo desempenha na cena carioca?
R: Minha ideia sempre foi promover arte e cultura, e não apenas bandas e seus discos. Sempre busquei unir todas as iniciativas culturais, e acredito que cabe ao Selo Cultural Parayba Records tentar fazer sua parte nessa fomentação artística, assim como outros selos e agitadores culturais deveriam fazer, mas cada um na sua. Muita gente da cena rock carioca sabe da minha luta, espalhando filipetas em eventos e nos stands da Parayba Records, em lojas de discos, usando as redes sociais e sempre colocando o rock carioca e nacional em pauta da Rock Press. Se pudesse estaria mais presente nos eventos, mas, infelizmente não posso, principalmente por não ter tempo, afinal moro sozinho, não tenho carro e perco muito tempo pelo fato do Rio de Janeiro não ter transporte público de qualidade e isso para mim é o grande vilão de alguns shows não terem o merecido público, aliás, falta de transporte público é o grande vilão para tudo o que tem de ruim no Rio, seja, saúde, educação, segurança, cultura... Seja como for, tento fazer minha parte, seja como fotojornalista, agitador cultural, com a Rock Press e com o Selo Cultural Parayba Records, que tem o lema de “Cultura Com Preço de Rapadura” não é a toa! (risos).
8 - Desde a sua volta ao Rio, como você analisa a cena daquela época para de hoje? E o que você gostaria de fazer pela cena musical daqui que ainda não tenha feito?
R: Primeiramente, tem algo que faz MUITA falta nos dias de hoje, que é um dial com uma Rádio Fluminense FM. No final dos anos 1980 e durante boa parte dos anos 1990 tudo era mais difícil, porém, era muito mais romântico, poético... Hoje temos a liberdade da internet e nem sempre fazemos bom uso dessa ferramenta. Antes, divulgávamos um show com cartazes colados em pontos de ônibus e o evento lotava, hoje usamos a internet fazendo a divulgação chegar onde o ônibus do tal ponto não passava e o nem sempre o show tem um bom público. A Cena melhorou e piorou ao mesmo tempo. Melhorou porque hoje tudo é mais acessível, gravar um disco hoje em 2019 é mais fácil que gravar um disco em 1989/99, por outro lado a cena se dividiu, nos anos 1980/90 assistíamos shows onde estilos como Pop, Punk, Heavy, Blues, Prog, Hard Rock, Rap se misturavam em um só evento todos estavam e estão no mesmo barco, hoje os shows são na maioria segmentados, Metal com Metal, Punk com Punk, Prog com Prog... Acho que toda a cena rock e cultural estão no mesmo barco, então por que não remarmos todos juntos?! Acho errado se dividir em segmentos tão parecidos.

9 – Outra para escolher (risos). Vinil ou CD?
R:
 Uma vez sonhei que fiz essa pergunta ao Bussunda do Casseta & Planeta e quando acordei ele tinha morrido (sem risos, por favor). Tenho milhares de MP3, até tento fazer uso dos streeming e plataformas digitais, mas não consigo me conectar com esses meios. Gosto dos dois formatos, e ainda incluo as fitas K7s, acho que ouvir CD é algo prático, mas escutar vinil é uma arte, é onde a poesia da música flui quase sempre melhor!
10 – Deixe seu recado final para os leitores do Arte Condenada.
R: 
"Primeiramente, agradeço ao espaço para expor minhas ideias e divulgar meus trabalhos com o Selo Cultural Parayba Records e com a Rock Press ( www.portalrockpress.com.br ) aqui no Arte Condenada, assim como ao Luis Carlos a quem também reconheço como outro batalhador. Aproveito para convidar os leitores do Arte condenada para marcarem presença em duas palestras que farei sobre meu trabalho como fotojornalista de shows e espetáculos. Ambas acontecem em agosto, uma delas, será em Belo Horizonte/MG, a data será confirmada nos próximos dias, a outra sera em Nova Iguaçu/RJ nos dias 24 e 25 de Agosto, mas informações no link que segue:
http://www.fotografiainfoco.com.br. Finalizo com o conselho, nunca parem de sonhar e de levar à frente esses sonhos, seja na arte, nos estudos, na música, na família... façam tudo com amor e com muita luta ajudem a construir novas histórias. Vi muitos amigos, cortando o cabelo por conta de trabalhos, estudando para concurso público... o que não é errado, o errado foi o fato deles terem abandonados seus sonhos e hoje sentirem saudades das histórias de sonhos que não construíram!"
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